Hoje a nossa coluna foi escrita por uma amiga e psicóloga incrível, Renata…
A gente sabe.
Hoje nossa coluna é sobre a hora do fim. A gente sabe quando estamos lá. Momentos de silencio e medo que nos apavoram sobre o que está por vir. Enfrente-os. Esse momento é como um portal para a sua próxima fase. Espero que vocês aproveitem o texto.
Eu sou a Ju, do @florinda_do_madruga.
Sou mãe de um menino e tenho duas enteadas! Como na maioria das separações, passei por momentos bem difíceis e divido com vocês essas dores… Hoje encontrei um grande parceiro de vida, que também é divorciado, e, com a nossa experiência passada procuramos construir o nosso modelo de casamento.
” A gente sabe. Sabe quando as coisas começam a desandar, quando uma crise está maior que as outras. Quando para de dar vontade de tentar arrumar a casa. Sabe quando a palavra separação já não bate tão estranha como antes. A gente sabe.
Pelo que acompanho pelo meu instagram, vejo que as mulheres seguram mais a barra pela tão sonhada família que foi construída. Os anos juntos tem peso. A gente pensa: Será mesmo o fim? Mesmo sabendo, a gente se põe em dúvida, e com essa dúvida a gente corre para a terapia. Precisamos entender o que está acontecendo, precisamos que algum só fale com a gente: Faça isso! Mas não, ninguém pode falar. Só nós podemos definir.
E foi assim que começou meu processo de separação.
As coisas entre nós já vinham ruins. A gente nunca foi de brigar, nem de conversar. Na verdade, para conversar eu precisava de muitos argumentos para dar razão aos meus sentimentos. Precisa justificar o meu sentir. Nosso casamento estava sem graça, sem vida, sem nada. Esse era meu sentimento. Mas quando um sente, o outro também sente. E eu não estava conseguindo mais. Busquei terapia para tentar resolver tudo, eu queria permanecer casada, mas de uma forma diferente, porque da forma como eu vivia eu não queria mais. Essa era minha verdade. Busquei ajuda de Deus também. Como chorava na igreja pedindo clareza. Pedindo luz no meu caminho…
E na terapia eu cuspia os marimbondos todos, toda a dor de tantos anos. Minha psicóloga falava: Mas você quer resgatar, como você pode mudar? E eu não tinha essa resposta, porque tudo doía muito dentro de mim.
Só que nós dois não falávamos a respeito disso. Ele também sabia que as coisas não estavam boas. Fizemos uma viagem com uma turma de amigos (coisas que só fazíamos acompanhados, nunca estávamos só nós dois… ) e eu fui decidida a começar a conversar lá. Por que numa viagem? Porque estaríamos sem meu filho, relaxados, com tempo… Mas tivemos um imprevisto grande com um dos casais e a viagem terminou mais cedo, num estado meio caótico.
Alguns dias depois era o dia dos namorados. Não estava com vontade de fazer nada, essa era a verdade. Saímos para um restaurante perto de casa e eu ensaiando tomar coragem para fazer a pergunta “e nós?“ quando… ela veio dele. Ali, toda a verdade foi escancarada… não estávamos bem mesmo. Falamos pouco, reconheci que as coisas não iam bem, mas que eu queria muito recomeçar. Essa era a palavra. Não dava para consertar, era necessário começar de novo. Eu perguntei se ele queria, ele disse que não sabia. Quer coisa mais trágica que o não saber? E completou: Vamos pedir a conta.
Confesso que fiquei bem desorientada e frustrada. Como assim, nem saber ele sabe? Segui na terapia, sugeri fazermos uma de casal, o que foi prontamente negado, pois ele não queria ninguém sabendo da nossa vida. Eu não sabia o que fazer com essa informação do “não sei”.
Até que uns dias depois, ele acordou de manhã e disse: Não aguento mais. Eu quero me separar. Tive minha resposta… Acatei a decisão dele. Eu poderia ter implorado, batido o pé. Mas não fiz, porque eu sabia que o casamento já tinha acabado e o que eu precisava era que ele quisesse casar de novo comigo. E ele não queria!! Ele foi trabalhar, eu fiquei em casa cuidando de filho, de casa, do meu trabalho, mas completamente aérea. Na hora do almoço ele me chamou para conversar e disse que tinha conversado com o pai e que ele havia aconselhado a tentar. Que casamentos não se resolvem assim. Mas ninguém sabia o que a gente vivia. Fora de casa éramos uma família feliz e equilibrada. Topamos permanecer e tentar. O ciclo de namoro durou uns 10 dias, e aí as coisas começaram a cair… desinteresse, falta de diálogo, carinho… Todas as vezes que tentávamos conversar sobre nós, ele falava: Não sei se quero. E eu pensava: como posso ficar com alguém que não sabe nem se quer?
Aí veio a segunda vez. Só que agora ele chegou a sair de casa, foi para um hotel. Eu em casa, segurando as pontas porque ninguém estava sabendo. Muito menos meu filho. Os amigos o convenceram do contrário. Ele disse que queria voltar. Eu aceitei. Ele resolveu fazer terapia. Sozinho. E mais um ciclo de 10 dias de carinho e atenção. Marcamos uma viagem, a primeira só da nossa família. Foi terrível. As únicas frases que trocamos eram: O que vamos comer? Onde vamos jantar? Vamos dormir? Só. Nessa viagem eu vi que as coisas não tinham solução. A gente se desconhecia completamente.
Quando voltamos da viagem, mais uma vez ele saiu de casa. Eu estava fraca, sem vontade, e muito machucada por dentro. Pensava: como vou me virar? O que vou fazer da minha vida? Por que cheguei até aqui? Ao mesmo tempo eu, na terapia, estava me fortalecendo. Me redescobrindo, para poder me mostrar novamente. Eu tinha que ser interessante para ele… só que não estava funcionando. Isso aí já durava meses a fio… Um casal amigo resolveu entrar no meio e nos ajudar a manter o casamento. Nesse dia, minha amiga me levou num salão, me fez me arrumar inteira, colocar uma roupa bonita enquanto o marido dela conversava com o meu marido. No final do dia nos encontramos, ele pediu desculpas e me pediu para voltar. E eu falei: é a última vez. Eu estava tirando forças não sei de onde.
Dessa vez ele foi atrás de uma terapeuta de casal. Escolheu a profissional e me levou. E lá, só eu falava. Ele olhava no relógio, no celular, reclamava de mim. Coisa que ele fazia sempre. Eu me sentia uma inútil, pois tudo que eu fazia era criticado. Na quarta sessão, ele me botou na parede: Você não tem coragem de se separar. Nessa hora eu vi que só dependia de mim, que para ele, já tinha acabado. E então eu disse: A coragem acabou de chegar. Encerramos aqui.
A terapeuta não creditou. Levantamos, fomos embora e nos despedimos como velhos conhecidos. À noite, em casa, eu falei que dessa vez iriamos contar primeiro para nosso filho. Para mim ali tinha realmente chegado ao fim. Eu realmente não queria mais. Fizemos alguns tratos para que meu filho tivesse o mínimo de impacto, mas que no fim das contas, o sofrimento deles é inevitável.
Na verdade, eu acredito que ele me fez tomar a solução para não carregar a culpa do fim do casamento. O que eu acho uma bobagem, porque o casamento já tinha acabado! Por responsabilidade igual dos dois. Não fomos um casal dedicado um com o outro.
É muito estranho viver tudo isso. Os primeiros dias parece que você está num universo paralelo. Ele saiu de casa dois dias depois, dessa vez definitivamente. “
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